28 junho 2007

Palavras que se evaporam

No fim de semana passado fui passear ao parque Beihai e vi uma coisa que me fascinou:
Algumas pessoas estavam a escrever no chão, com a particularidade de, em vez de utilizarem tinta, estarem a escrever com água.
Utilizando uns pincéis com uma esponja na ponta íam escrevendo caracteres chineses que, com o calor que estava, se evaporavam rapidamente.
Não faço ideia do que estavam a escrever.
Poemas, desejos, palavras soltas,... não sei.
Mas isso... é o menos.

Ano de Espanha na China

Está a ser o Ano de Espanha na China.
No fundo é um conjunto de iniciativas coordenadas para promover a imagem de Espanha na China e os laços entre os dois países.
Há concertos, missões empresariais, feiras, exposições em museus, visitas de estado, intercâmbios, suplementos nos jornais, revistas, e 1001 outros eventos.
Tudo pode ser promovido, de uma forma integral: gastronomia, cultura, negócios, turismo, imobiliário, educação, etc.
No ano passado a Itália fez o mesmo.
E Portugal? Quando?

27 junho 2007

Os Hutongs de Pequim

Genericamente, os Hutongs são umas ruinhas formadas por alinhamentos das tradicionais casas chinesas com pátio (siheyuan).
Quando foram construídas, cada siheyuan alojava uma familia. Com três pátios interiores, na parte de trás da casa viviam as filhas (de onde nunca saíam até casarem), na área do meio viviam os pais e os filhos, e a área da frente ficava reservada para convidados, amigos e familiares.Se no início eram a residência de muitas pessoas da classe média, com o passar dos tempos foram-se deteriorando e as condições de vida nos Hutongs foram piorando.
Cada casa passou a albergar várias famílias e os hutongs passaram a parecer-se um bocado como um bairro de lata (sendo do Porto, eu até os comparo mais rapidamente com uma "ilha").Talvez por isso mesmo, os Hutongs têm um estilo de vida próprio, bastante tradicional e comunitário. Todos se conhecem e as tarefas diárias, desde cozinhar a lavar os dentes fazem-se na rua, com os vizinhos.Recentemente tem havido uma forte polémica relacionada com os Hutongs:
Com o pretexto de "melhorar as condições de vida" das pessoas que lá vivem, muitos deles têm sido demolidos para dar origem a modernos edifícios.
Se nalguns casos dão origem a edifícios de habitação para albergar as mesmas pessoas que já lá viviam, na maior parte dos casos as pessoas são expulsas para os subúrbios, para se construir um moderno complexo de escritórios ou habitações para classes mais altas.
Ainda hoje se podem ver vários Hutongs marcados com o caractere "Chai" que quer dizer "para demolir".Claro que aqui o governo é preso por ter cão e preso por não ter: quando não fazem nada também são acusados de deixar as pessoas na miséria.
E também há os casos em que os Hutongs são melhorados e remodelados mas depois são imediatamente comprados pelos mais ricos ou pelos estrangeiros.

26 junho 2007

Ábaco

O ábaco foi a primeira máquina de calcular usada pelo homem.
Aliás, é mesmo uma máquina de calcular.
Aqui na China ele ainda é utilizado nas escolas para ensinar algumas operações.
Li num livro que os cálculos para a primeira bomba atómica chinesa foram feitos com ábacos.Gostava de sair daqui a saber usar o ábaco.

Honra lhe seja feita

O único produto português que vi à venda nos supermercados em Pequim: Bolachas Vieira de Castro.

Migrantes

Com a cidade a crescer a olhos vistos, Pequim absorve uma quantidade enorme de trabalhadores migrantes vindos das províncias mais rurais da China.
Não será concerteza um fenómeno único da China, e creio que posso dizer que Portugal já passou pelo mesmo, apenas com a diferença da escala: aqui são contados aos milhões.

A diferença substancial em relação a outros casos prende-se sobretudo com o facto de estes trabalhadores necessitarem de uma autorização para ficarem em Pequim - o "hukou".
Caso contrário vão ter de regressar (ou ficar ilegais, sem direitos).
Essa autorização só é passada caso os trabalhadores tenham contrato de trabalho (antes de começarem a pensar "vê-se logo que é uma ditadura" devo dizer que creio que é mais ou menos o mesmo que se passa com os imigrantes em Portugal para renovarem o visto).
O governo pretende com isto evitar o aparecimento de grandes favelas e bairros de lata sem condições no arredor das cidades.

No meu dia-a-dia apenas dou por eles quando passo pelas obras: ao lado de cada edifício em construção, é sempre construido um mini-bairro interno para os trabalhadores.
As casinhas, normalmente azuis, não têm mau aspecto (e algumas têm mesmo ar condicionado, coisa que a que nem alguns "laowai" (calão para "estrangeiro") têm direito).

25 junho 2007

Informação - a propósito do calor

Como eu já disse em posts anteriores, o único jornal diário em língua inglesa aqui em Pequim´é o China Daily.
Conforme seria de esperar, há quem diga que nem toda a informação impressa nesse jornal é muito credível.
Já conheci quem me dissesse que a única informação digna de confiança era o boletim meteorológico.
Mas já há quem nem nisso acredite.
É que existe uma lei que permite que os trabalhadores da construção civil não trabalhem se a temperatura for superior a 40º.
Por coincidência, apesar dos sites da internet (ah! os não bloqueados) falarem em 42º, as previsões do China Daily raramente passam dos 39 º.
Parece que as temperaturas de alguns termómetros públicos também nunca chegam aos 40º.
E assim acontece...

Algumas razões para um certo desconforto

1 - Está um calor de morrer. O verdadeiro bafo. Temperaturas máximas frequentemente acima dos 40º. A imagem de cima tem a previsão para amanhã: 40º mas fazendo-se sentir como se fossem 48º. Qualquer actividade na rua fica fora de questão.

2 - O meu ar condicionado não funciona. Aliás, fiquei a saber que nunca funcionou. Depois de 1001 discussões e situações profundamente enervantes (em chinês?) com o senhorio, com o condomínio e com os homens das obras, fiquei a saber que o apartamento nem sequer tem tubos para circular o ar. O aparelho digital na parede para regular a temperatura e o respiro no tecto são uma profunda aldrabice, simplesmente para enganar.

3 - Há mais de 2 semanas que não vejo o sol. Apesar do calor e da luminosidade ofuscante, o sol não se vê. Sabe-se que está lá mas não se vê. A cidade está sempre coberta por uma camada de smog.

4 - Uma máquina multibanco "comeu-me" 2000 Yuans. São "só" 200 euros. Engoliu-os antes que eu pegasse neles. Já fui ao banco 3 vezes para "conferenciar". Falei com umas 10 pessoas e ainda não sei se vou ver o dinheiro de volta.

5 - Os dias são cada vez mais longos. Isto normalmente não é um problema, mas aqui é. É que na China não muda a hora. Vai daí e... por exemplo hoje, o sol nasceu às 4.47. Fica dia antes das 4 da manhã. Como os quartos não têm persianas e as cortinas não escurecem muito... o sono fica um bocado atrapalhado.

6 - Para ajudar a atrapalhar o sono (como se não bastassem os mosquitos) aconteceu-me ainda mais uma. Há cerca de 2 semanas começaram a escavar os alicerces para um prédio mesmo ao lado do meu (foto em baixo). Como de dia está calor e os camiões não podem circular na cidade... trabalha-se de noite. Da umaaté às seis da manhã é um inferno de escavadoras, camiões, buzinas, etc. Uma barulheira!

24 junho 2007

Era hoje...

23 junho 2007

Ritmos

É engraçado como numa cidade grande e moderna como Pequim se vão sentindo os ritmos naturais da passagem do tempo.
Já falei há tempos nos vendedores de ananases que povoavam as ruas de Pequim durante a Primavera.
Entretanto, esses vendedores (ou pelo menos os frutos) foram sendo substituidos pelas cerejas. Depois vieram os das melancias (com a particuridade de estes virem numas carroças puxadas por cavalos).A passagem do tempo também se nota em coisas mais High-Tech:
No início de Junho mudaram grande parte dos reclames no topo dos edifícios perto de minha casa e do trabalho.
Pontos de referência a que eu já estava habituado, como o Edifício da Nestlé, ou a Torre da Hitashi mudaram para outros que eu ainda não memorizei.
E assim se dá conta que o tempo vai passando...

Números da sorte

Os chineses levam muito a sério a questão dos números.
Em geral o 4 representa má sorte enquanto o 8 é um número da sorte.
O 8 é pronunciado "ba" em Mandarim e é considerado bom porque rima com "fa" (prosperidade),
Também já ouvi dizer que 250 (er bai wu shi) é como chamar alguém de idiota.
Este facto tem efeitos estranhos no dia-a-dia.
Por exemplo, por via das dúvidas, os elevadores dos prédios não têm o andar 4, 14, 24, ...
Por "simpatia" com os ocidentais também não há o 13.
Por exemplo, o meu elevador em vez do andar 4 tem o 3A e em vez do 13 e do 14 tem o 12A e 12B.O mesmo acontece com as matrículas dos carros e os números de telemóvel: determinadas combinações de números são realmente muito mais caras que outras.
No meu caso, por via das dúvidas, optei por não comprar dos números mais baratos (mas comprei os imediatamente a seguir...)

Branco mais branco..

Um dos paradigmas de beleza aqui na China é o ter a pele muito branca.
Agora no Verão, é vê-las a andar de guarda-sol (no fundo é um guarda-chuva) para toda a parte.
Aliás, mesmo na secção de cosmética dos supermercados, há dezenas de produtos para "esbranquiçar" a pele.
Em Portugal, por esta altura, é exactamente ao contrário...

22 junho 2007

Ui...

Hoje constatei uma coisa que me deixou preocupado.
Apesar de eu viver colado ao "terceiro anel" de Pequim e de trabalhar junto da principal avenida (Chang'An Av.). Apesar de eu passar mais ou menos uma hora no trânsito por dia e de ter de atravessar avenidas de várias faixas preenchidas com carros, autocarros e camiões...
Apesar disso tudo... eu raramente sinto o cheiro a fumo.

A minha explicação é que já estando há tanto tempo mergulhado na poluição, já nem me consigo aperceber dela.
Será isso?

21 junho 2007

Xi'an

Xi'an é a capital da província de Shaanxi.
Foi capital da China nas distanias Chin, Han e Tang (sec III AC a VII DC).A cidade é cheia de vida e bonita, com uma muralha, torre do sino e torre do tambor e, mais surpreendentemente, uma fervilhante zona islamica.
Mas a principal atracção de Xi'an (não sei por que raio se escreve com ') é o mundialmente conhecido Exército de Terracota.
Foi isso que me levou a ir lá sozinho (a maioria dos outros portugueses já lá tinha estado antes de eu chegar).
O Exército de Terracota é uma parte do túmulo do Primeiro Imperador da Dinastia Qin. É um exército formado de milhares (cacos de) guerreiros e cavalos de terracota em formação de batalha verdadeira.
Foi descoberto apenas em 1974 por um agricultor (que agora está numa lojinha a tirar fotografias com as pessoas que lhe comprarem um livro).
É considerada das maiores descobertas arqueológicas de sempre.
Deve ser o 10º monumento que eu visito que se auto-intitula "a oitava maravilha do mundo".

20 junho 2007

Sinos

O facto de estar longe de Portugal, num país completamente diferente, tem alguns efeitos inesperados.
No outro dia sonhei que estava a ouvir sinos.
Som de sinos.
Foi como uma miragem auditiva ou uma alucinação sonora.
Não vi nenhuma imagem de nada: Só o som.
Sinos...

19 junho 2007

Ovo

Mais uma obra de arquitectura impressionante é o novo Teatro Nacional.
A obra ainda não está acabada, mas fui lá tirar umas fotografias.
Como é normal nestas coisas, é alvo de uma grande polémica, por se localizar perto da praça de Tiananmen e não se enquadrar com a arquitectura tradicional desta zona da cidade.
Depois há também a questão de não ter sido escolhido um arquitecto chinês: o Arquitecto é o Paul Andreu que fez, entre outras coisas, o arco de La Defense, em Paris.
Vai ficar assim:

18 junho 2007

Notas

Aqui em Pequim praticamente não se usam moedas.
Existem notas desde 0,1 kwai (um cêntimo de Euro).

Acontece que, a partir do momento em que se paga com notas de mais de 10 kwai, existe um ritual que se repete:
A pessoa que recebe faz uma análise minunciosa, nota a nota, para saber se a nota é falsa.
Realmente... se aqui na China se copiam tantas coisas, porque é que não se há-de copiar dinheiro?
Assim, tenho de esperar por todo o procedimento: ver à contra-luz, raspar, dobrar, amassar e encostar ao ouvido...
Isto pode tornar-se particularmente exasperante quando se tem pressa e se paga com muitas notas. Além disso, como nunca me tinha aparecido uma falsa, eu achava tudo isso praticamente inútil.
Mas finalmente aconteceu: apanharam-me uma nota falsa! E logo de 100 (10 euros).
Acontece que como as notas de 100 são as maiores, o único sítio onde ma podem ter dado foi mesmo num multibanco.

Só falta dizer o comentário do polícia a quem uns amigos se quixaram do mesmo:
Ah, não faz mal, vão trocá-la ao banco....

17 junho 2007

30... um belo começo

Para recuperar da festa de ontem, tinha decidido ir à massagem.
Descobri que podia fazer uma espécie de "consulta" de Medicina Tradicional Chinesa.
Pensei: 30 aninhos... já é altura de uma revisão.
Acontece que o médico? / terapeuta? / guru? não falava inglês (e o meu chinês não é suficiente).
Mais explicação, menos explicação, com umas consultas de tradução na internet conseguiu-me explicar que tinha 3 "disturbed" "vertebra". Isto pode explicar algumas das minhas queixas que já tinha posto num post anterior.
Claro que ele disse que podia resolver isso.
O gesto que ele ía fazendo enquanto se ria muito era semelhante a quem torce uma toalha molhada.
Comecei logo o "tratamento".
As minhas costas estalaram tanto que parecia o fogo de artifício do ano novo chinês.

16 junho 2007

Festa!!!

A comunidade portuguesa preparou-me uma festa de anos fantástica.
Não faltou nada: bolos, pandas, música, comida, bebida, festaaaaaaa!
Ah! e a prenda. A cereja em cima do bolo:
Um equipamento da selecção chinesa com o meu nome nas costas!!!

15 junho 2007

É hoje


14 junho 2007

Chung(hw)a

Disseram-me que este era o tabaco que o Mao fumava: Chunghwa.
Ainda não conheci ninguém que o tivesse fumado - os maços, mesmo para Portugal, são bastante caros: cerca de 8 Euros.

Pergunto-me a mim mesmo se a palavra "chunga" que entrou recentemente (creio eu) no léxico português, não terá a sua origem aqui.
Pelo menos fonéticamente é bastante parecida...

13 junho 2007

O menú de hoje

Já todos devem ter ouvido falar do Halibut.Para quem não sabe, é uma pomada para colocar nos rabinhos dos bebés para evitar assaduras.
Quem se quiser cultivar, pode ver alguns folhetos aqui ou aqui.
Com o Baby Boom que tem existido na SPI, deve ter assistido a um aumento das vendas considerável nos últimos tempos.

Vem isto a propósito do meu almoço de hoje.
Podem não acreditar, mas comi Halibut. Halibut fumado.
Como prova, fica aqui a fotografia do menú:
Entretanto descobri que halibut em português se diz alabote e é um peixe.
Que raio de criativo é que coloca o nome de um peixe numa pomada para rabos?

"O alabote do atlântico é o maior membro da família da solha, com um olho cinzento de um lado e do outro um olho outro branco cego."

12 junho 2007

Por falar em comida

Aqui em Pequim existe um mercado de comida que tem no menú coisas muito pouco ortodoxas.
Devo dizer que, pelo que tenho visto, não é nada normal os chineses comerem estas coisas.
De certo modo, parece-me mais uma "atracção turística" do que outra coisa.
As fotografias ajudam a ter uma ideia: estrelas do mar, cavalos marinhos, gafanhotos, larvas, vermes, escorpião, lagartos... tudo pode ser comido na forma de espetada.
Está prometida uma ida aos escorpiões um dia destes.
Depois direi algo (se sobreviver).