30 março 2007

Chinês - Algumas noções iniciais

Conforme o esperado, as aulas de Chinês estão a ser uma experiência surreal.
Vou partilhar alguns dos pontos altos desta experiência:
Devo esclarecer que ainda não estou na fase de aprender caracteres, pelo que utilizo a escrita pinyin - conhecido ao mais alto nível como "pinguim" - que é uma forma de adaptar os caracteres chineses ao nosso alfabeto.

Cada som em chinês é geralmente composto pela parte inicial e final: a parte inicial é normalmente uma consoante e a parte final, o som de uma vogal.
Até aqui é tudo aparentemente fácil. Mas não. De facto não é assim:

Nas consoantes, o trabalho está relativamente simplificado pois a maioria delas tem um som idêntico ao português. O pior, são as que não têm.
Diferenciar um Qi, de um Xi, um Shi, ou de um Chi é algo de uma complexidade extraoridinária.

A sua pronúnca correcta implica o domínio de conceitos como Bilabial, Labio-dental, Alveolar, Retroflexa, Álveo-palatal ou Velar.
Podem acreditar que na prática implica um conhecimento detalhados de anatomia humana, ilustrados na imagem seguinte, obtida no site "Pronunciation of Mandarin Chinese".
Quanto às vogais, existem quatro tons para sua "acentuação", com sinais gráficos: ¯ , ´ , ` e . Até nisto tinham de implicar - os símbolos do 1º tom e do 4º tom só se conseguem colocar à mão, depois de imprimir - não é possível escrevê-los no computador.

Cada um destes tons representa a altura e a curva melódica da voz com que se deve pronunciar cada sílaba.
Quem conhece os meus dotes musicais, deve saber que a palavra "tom" não me é muito familiar. Se a isto aliarmos "a curva melódica da voz", fica tudo dito.
Ando a concluir que sou meio daltónico dos ouvidos (novo conceito para confusão de tons).

Acreditem que, ao falar com um Chinês, dizer o tom ligeiramente ao lado faz com que não nos percebam de todo. Creio que com os avanços da genética ainda vão identificar vestígios de sangue espanhol nas raízes da população chinesa.

Para esta confusão contribui de sobremaneira mais uma característica típica do Chinês: a "multihomofonização". Deixo um exemplo para terminar: escrevendo a palavra Yi no dicionário, obtemos uns "modestos" 160 resultados completamente diferentes uns dos outros.

27 março 2007

Vendedores de ananases

Uma das profissões mais características com que me tenho cruzado todos os dias aqui em Pequim é a de Vendedor de Ananases.
Em toda a parte há uns senhores nuns carrinhos cheios de ananases para vender.
Há ananases para venda em vários formatos, desde inteiros a fatias espetadas num pauzinho, tipo gelado.
Mas os mais engraçados são ananases descascados com uma ferramenta própria (tipo um formão) que ficam com um aspecto fantástico.

E o melhor de tudo... é que as ruas perto destes vendedores fica com um cheirinho...

Estádio Olímpico

Pequim vai organizar os Jogos Olímpicos em 2008.
Hoje ficam a faltar exactamente 500 dias para a abertura dos Jogos.
Com esse pretexto, a cidade está a aproveitar a oportunidade para se transformar radicalmente.
Novas linhas de metro, encerramento de fábricas no centro, novos parques, novos edifícios, novas avenidas...
Um dos focos dessa mudança é sem dúvida o Estádio Olímpico, onde vão ocorrer os eventos mais importantes dos Jogos.
O estádio é uma estrutura muito original, em forma de ninho de pássaro. A ideia é, não só obter um efeito visual fantástico, mas também conseguir mecanismos térmicos e de ventilação mais "ecológicos" para os seus 91 000 lugares.

Como não podia deixar de ser... sábado passado fui ver a obra.
O estádio ainda está em construção e não deu para me chegar muito perto.
Mas mesmo assim, posso garantir que, pelo menos visualmente, tem bastante impacto:

26 março 2007

Fusos

Na China não muda a hora.
Com isto não quero dizer que é sempre meia-noite!
É só mesmo para avisar que agora passam a ser "só" 7 horas a mais do que em Portugal.

25 março 2007

Processo de desconstrução e de mentalização

"Burro velho não aprende línguas"
  1. Eu não sou burro;
  2. Eu não sou velho;
  3. Eu vou aprender Chinês.

Repetir 100 vezes.

23 março 2007

Coisas que me aborrecem

Mais um dia sem ver o sol.

Mais um dia sem acesso ao blog.

22 março 2007

Primavera de Pequim

Ontem entramos na Primavera!

Muito mais importante do que isso é que me desligaram o acesso ao blog.
Teoricamente, não o posso actualizar, nem sequer ver.
Alguém não deve ter gostado que eu dissesse que os táxis cheiravam a alho.

Ainda pensei que era uma falha técnica, mas o blog continua a ser acessível de fora da China.
Andei a procurar ler sobre o asunto e, por incrível que pareça, encontrei mais informação sobre isto em artigos em Português do que em Inglês. Aconselho estes senhores do lápis azul a irem contratar alguém que fale português a Macau rapidamente, sob pena de eu continuar a poder encontrar artigos como o seguinte:

"O Governo chinês estuda novas medidas para controlar as opiniões dos internautas em blogs, afirmou hoje por meio da imprensa oficial a Administração Estatal de Imprensa e Publicações, principal organismo censor da China.
O diretor do organismo, Long Xinmin, disse que os blogs, são um fenómeno tão novo para o país asiático que existem "vazios na supervisão" dos conteúdos, em relação aos outros meios de comunicação, fortemente controlados por Pequim."


Pelos vistos, por causa de um "vazio de supervisão" o meu blog tornou-se simplesmente num "vazio".Como nestas coisas da subversão há sempre quem ande mais à frente, foi-me possível encontrar rapidamente uma forma de aceder na mesma ao blog e manter o meu contacto com o mundo.
Aproveito para informar os senhores do "teclado azul" (aquele que substitui o lápis azul) que a partir do site "http://anonymouse.org/" consegue-se aceder aos sites que eles bloqueiam (por ex. a wikipedia).

Se esses senhores entretanto já contrataram alguém em Macau e conseguirem ler este Post (o que deve ser difícil, pois se estiverem na China não têm acesso ao Blog... Bem feito - o feitiço vira-se contra o feiticeiro!), devo dizer que espero vir a ser condecorado com uma medalha Mao no próximo 1º de Maio pelas minhas boas dicas e conselhos para o bom desempenho da sua função. (Vá... no mínimo uma medalha Garcia Pereira. Será que ainda têm medalha Pacheco Pereira?).

Depois deste post... se eu não der notícias durante uns dias seguidos, por favor contactem a embaixada ;)

20 março 2007

Perspectivas

Este é um mapa do mundo conforme estamos habituados a ver:
Este é um mapa do mundo conforme os chineses o vêem:
Diferentes perspectivas...

18 março 2007

Três apontamentos sobre os táxis de Pequim

Os táxis de Pequim fazem parte do meu dia-a-dia.
Posso mesmo dizer que foi através deles que aprendi a dizer as minhas primeiras palavras de Chinês, como a morada de casa e do trabalho, sempre em frente, esquerda, direita, recibo, obrigado, etc.
Os táxis de Pequim são como o que esta fotografia ilustra.
São carros relativamente recentes, normalmente da marca Hyundai, modelo Elantra.

Para a descrição ficar completa, existem três características que merecem ser realçadas:
  1. Os Táxis de Pequim cheiram frequentemente a alho. O cheiro é de tal forma intenso e nauseabundo que qualquer vampiro deve deixar uma margem de se gurança de pelo menos uns quilómetros. É frequente eu ir para o trabalho de manhazinha, com um frio de rachar, e ter de ir com a janela completamente aberta. Os taxistas devem estranhar... ;
  2. Nos Táxis de Pequim vamos sempre a ouvir contar histórias... em chinês. Os taxistas têm quase sempre o rádio sintonizado numa estação em que está um homenzinho a contar histórias. Creio que será tipo uma radionovela que vai tendo episódios atrás de episódios, mas não tenho a certeza. Parece sempre igual... Exclamações, entoações e tudo. Apenas não se trata de uma radionovela, pois só existe um narrador, e não existem diferentes vozes para as diferentes personagens. Obviamente, não percebo absolutamente nada, mas admiro a capacidade de contar histórias do "tal" narrador (e ainda mais a paciência dos taxistas para estarem sempre a ouvir isto);
  3. Os Táxis de Pequim são geradores de energia. Depois de pagar, pedir o "fapiao" (recibo), e dizer o "xie xie" (obrigado) da praxe, é frequente, ao fechar a porta do carro, apanhar um choque de electricidade estática. Não se trata de um choque qualquer: é mesmo uma brutalidade. Creio mesmo que em algumas vezes os meus ossos começaram a dar luz, como nos desenhos animados. Já começo a ganhar alguns truques, como o fechar a porta com a manga, ou empurrá-la apenas pelo vidro, mas ainda é frequente esquecer-me: nesses casos... ZZZap! Fico esturricado.

17 março 2007

Isto para mim é Chinês...

Até agora, tenho-me sentido praticamente um analfabeto-surdo-mudo: não consigo ler nada, não percebo nada do que me dizem e não consigo dizer nada.
Safo-me com o inglês, o que a nível profissional até resulta, mas no dia-a-dia, nem por isso. Como seria de esperar, a maioria das pessoas não fala inglês, e algumas das que falam, falam mais "Chinglês" do que Chinês.

Diz quem sabe que a relação com a língua chinesa passa por cinco fases:
  1. Fase do "Ching-chong-ching" - em que o mandarim parece apenas uma mistura de sons, com resultados bizarros. Já passei esta;
  2. Fase do "Pronto, está bem: é realmente uma língua" - Nesta fase ultrapassa-se a desconfiança de que o chinês não seria de facto uma língua. Começam-se a reconhecer palavras repetidas e algumas frases. A pronúncia é incrivelmente má e dificilmente perceptível para o comum dos chineses. No meu caso, já consigo dizer a morada (na yin ta cha) ou o local do trabalho (jung fu ta cha) e indicar as direcções ao taxista;
  3. Fase do "Já falo alguma coisa" - através de um esforço árduo, uma forte auto-crítica e de um processo meticuloso, consegue-se chegar a esta fase. Hei-de fazer um post sobre a complexidade da mistura de tons e sons que esta língua tem. Etou a iniciar esta fase.
  4. Fase do "Eu falo Chinês" - Nesta fase já se tem bastante vocabulário e domina-se a construção gramatical. Já se consegue falar em chinês fluentemente com amigos. (Ainda não sei quanto tempo se demora até chegar aqui);
  5. Fase do "Eu confesso, sou Chinês".

15 março 2007

Caminho

Esta é uma vista aérea do caminho que eu faço todos os dias, de casa até à SPI (em baixo, à esquerda, vê-se a Cidade Proibida e Tiananmen).
São mais ou menos 6 quilómetros, praticamente sempre em frente, na mesma avenida.
A avenida chama-se Dongsanhuan e é o equivalente a uma "terceira circular". (Lá perto de minha casa chega a ter 14 faixas.)
Até agora tenho feito este trajecto de táxi, o que demora cerca de meia hora e dá qualquer coisa entre os 1,5 e os 2 Euros.
Quando ficar mais calor, não sei se compre uma bicicleta... logo se verá.

14 março 2007

Costas

Aqui em Pequim, o meu computador acompanha-me quase durante todo o dia.
Ele é o meu posto de trabalho, a minha cabine telefónica, centro de lazer, etc.
O que eu quero dizer com isto... é que tenho de o carregar para todo o lado.
Sendo que o computador não propriamente pequeno, com a papelada e com os acessórios necessários, a mala chega facilmente aos cinco quilos. Logo, o esforço para a carregar para todo o lado é bastante grande. Isto é particularmente penoso quando tenho reuniões em diferentes pontos da cidade.
Ainda ontem foi casa-táxi-trabalho-metro-combóio-táxi-empresa-táxi-combóio-táxi-empresa-táxi-combóio-metro-táxi-carrefour-táxi-casa.
Moral da história: tenho as costas completamente feitas num oito.

13 março 2007

Roupa


Dois comentários rápidos:
  • Já não me lembrava de pôr roupa a secar;

  • Sou um desastre a dobrar roupa.

12 março 2007

Beijing 798

O “Distrito 798” é uma parte de Pequim (Dashanzi) que ocupa o espaço de umas antigas instalações fabris concebidas na Alemanha de Leste e construídas nos anos 50 com a ajuda Soviética.Com o crescimento urbano dos últimos anos, Dashanzi passou a fazer parte integrante da cidade. Desde 2002 começaram a aparecer no “Distrito 798” estúdios, galerias, cafés, lojas e todo o tipo de espaços dedicados à arte contemporânea.
A mistura da arte contemporânea com o património histórico industrial e o ambiente relativamente alternativo que se faz sentir provoca um resultado surpreendente.
Parece que encontrei um sítio para passar algum do meu tempo livre aqui em Pequim...
Mais info aqui e aqui.

11 março 2007

Templo do Céu

Sábado, apesar de se manter bastante frio, esteve um dia de sol muito bonito.
Aproveitei e fui fazer a minha primeira visita turística. Fui ao Templo do Céu.

O Templo do Céu era um lugar de oração e oferendas durante as dinastias Ming e Qing quando os imperadores pediam ao céu fartas colheitas . É uma obra da dinastia Ming (deve ser mais ou menos a mesma dinastia do meu telemóvel chinês) cuja construção começou em 1406 e terminou em 1420. Mais informações clicando aqui.

09 março 2007

Grandes Portugueses

Já passaram duas semanas e eu ainda não apresentei os outros portugueses com quem tenho estado aqui em Pequim. São nove participantes no programa INOV Contacto. A presença deles cá está a facilitar extraordinariamente a minha adaptação a Pequim. Quase todos são meus vizinhos (eu moro na Torre F e eles em diferentes apartamentos da Torre B) e fazemos todos quase uma grande família. Ao fim dos extenuantes dias de trabalho (mais uns que outros) juntamo-nos sempre para jantar, confraternizar e devertir-nos.

Passo a apresentar:

  • Alexandra Paulino - Alentejo. Relações Internacionais. Trabalha no ICEP;
  • António Larguesa - Barcelos. Comunicação Social. Trabalha na Agência Lusa;
  • Cláudia Raimundo - Lisboa. Engenharia do Ambiente. Trabalha na IT Power, empresa de estudas na área do ambiente / energias renováveis.
  • David Loução - Alentejo. Gestão e Marketing. Trabalha na Câmara do Comércio da União Europeia na China;
  • Gonçalo Santos - Coimbra. Engenharia Electrotécnica. Trabalha na Tekever, empresa de Tecnologias de Informação;
  • Marta Marques - Lisboa. Gestão. Trabalha na cadeia de Hoteis Sofitel;
  • Nuno Mendes - Porto. Direito. Ocupa o seu tempo na NCO Consulting, empresa de consultoria jurídica para inserção de empresas na China;
  • Nuno Pereira - Guimarães. Gestão. Trabalha na Archway, empresa de serviços de localização remota por GPS;
  • Susana Sousa - Viseu. Gestão Turística. Trabalha na cadeia de restaurantes Brasserie Flo.
Bem... esta é apenas a informação "básica". Se quiserem ir sabendo mais sobre cada um deles, tenho a lista dos respectivos Blogs no menú do lado esquerdo.

08 março 2007

A entrevista

No sábado à noite conheci o verdadeiro Zé Carlos.
(Os mais aficionados do Gato Fedorento estarão já a dizer "Pshht, cala-te..." - ver clicando aqui)
Afinal é jornalista da TV de Macau.
Ele estava cá para cobrir a "Assembleia do Povo" que ocorreu esta semana em Pequim e, depois de umas conversas, achou que seria interessante também me entrevistar.
A entrevista foi ontem no Beijing Hotel.

Até correu tudo bastante bem... pelo menos até à minha última resposta, em que falei sobre a facilidade/dificuldade em interagir com empresas chinesas. Saiu-me algo como:
"No fundo, é tão difícil fazer negócios aqui como na China."

06 março 2007

Edifício da CCTV

Em Pequim faz-se sentir a procura de uma imagem icónica, distinta e moderna.
Hoje em dia, a maior parte dos melhores arquitectos do mundo estão a desenhar aqui.

Podemos encontrar exemplos por toda a parte, desde o novo terminal do aeroporto de "sir" Norman Foster, ao estádio olímpico de Jacques Herzog, a complexos habitacionais do Steven Holl, etc. Clicando aqui, podem encontar alguns (bons) exemplos.

Um desses edifícios, provavelmente o mais marcante, é a sede da Televisão Chinesa, a CCTV.
Este edifício irá ser um dos ícones mais marcantes da cidade de Pequim.
Ele foi desenhado pelo arquitecto Rem Koolhaas, o mesmo da Casa da Música, no Porto e vai ser parecido com o que é apresentado nas fotos seguintes (nunca acreditar a 100% - fala a voz experiência já descrita neste blog).

Para minha surpresa, esse edifício está localizado mesmo ao lado do escritório da SPI.
Vou poder acompanhar o ritmo da obra!
Ficam aqui algumas fotografias tiradas por mim ontem:
É realmente impressionante a complexidade da obra em questão.
Estou curioso para saber em que ponto estará a obra quando eu me for embora, no Verão.