15 julho 2007

O Desterrado regressado

O Desterrado vai passar a ser O Regressado.
Pelo menos por uns tempos...

Ao fim de 140 dias e 130 posts de aventuras e desventuras pelo império do meio, o Desterrado regressou ao ponto de partida.Conhecendo o gosto chinês por números posso também dizer que foram 12 aeroportos, 2 terminais marítimos, 3 estações de combóio e muitas de autocarro.

Mas como a vida não se resume a números, foram também muitas experiências, muitas amizades e muitas histórias, umas contadas e outras que vão ficar por contar.

Antes de acabar, não posso deixar de agradecer a todos os leitores do blog, quer aos que o leram mais regularmente, quer aos que o fizeram mais esporadicamente, quer aos mais conhecidos, quer aos mais anónimos, quer aos que deixaram os seus comentários, quer aos que não o fizeram, pois foi para eles e com eles que o blog foi sendo escrito ao longo deste tempo.

12 julho 2007

Grande

Ao ver blog do meu irmão mais novo, reparei que até ele faz referência à muralha da China e eu ainda não tinha dito quase nada.A muralha é considerada o símbolo nacional da China.
Se a sua função era sobretudo militar, funcionou também como via de comunicação entre diferentes províncias.
Ela prolonga-se por mais de 5 000 quilómetros de extensão, atravessando montanhas e desertos.

É impressionante imaginar o esforço que implicou a sua construção.

Paciência

O mesmo que foi dito no post anterior, não se aplica à expressão "Paciência de Chinês".
Realmente, em geral os chineses são muuuito pacientes.

E isso nota-se ainda mais quando vemos a minúnncia e o detalhe de muitos dos trabalhos manuais tradicionais que vemos fazer na rua:
Bonequinhos de açucar soprado, desenhos de caramelo, caracteres tradicionais desenhados, recortes, sombras chinesas, e outras maravilhas...

O mito

Uma das ideias que caiu por terra desde que aqui estou foi a de "trabalhar como um chinês" como equivalente a um grande esforço e dedicação.

Em Portugal, historicamente já fomos tentando esta do "trabalhar como um ..." com outros povos, mas na verdade nunca fomos muito convincentes:
Já tivemos o "trabalhar como um mouro", por "falta de provas" passámos para o "trabalhar como um galego", o que também já foi chão que deu uvas, e agora, deu-nos para achar que "trabalhar como um chinês" é que era convincente.
Para mim, esse mito caiu por terra.
Naturalmente, haverá chineses que trabalham muito, mas eu estou a falar da imagem geral (que é aliás partilhada por quem vive cá há mais tempo).

A coisa mais engraçada é na "soneca".
Encontro pessoas a dormir em toda a parte:
Para além dos locais esperados como metro, autocarros, carros estacionados e bancos de jardim, devo dizer que os McDonalds são "dormitórios" preferenciais: chega-se os restos de comida para o lado, põem-se os braços de bruços em cima da mesa, e zzzz...zzzz.
Mas o pior é que isto também acontece em ambiente de trabalho com bastante frequência.

Já encontrei pessoas a dormir exactamente na mesma posição descrita em empresas de sostware que visitei, em lojas de shopping, em guichets da administração pública, nas obras, etc.Depois há também a questão dos horários.
Se uma loja fecha às 19, é melhor ir lá antes das 18.45 senão corre-se o risco de a loja estar fechada.
Outro exemplo é o edifício do meu trabalho.
A partir das 17.15 começa-se a ouvir um burburinho de pessoas a sair. Às 18 já não se vê ninguém.
Sendo um edifício de escritórios, não acho normal, que quando saio um "bocadinho" mais tarde, às 18.30, já tenha de sair pelas traseiras porque o edifício já fechou.

Low tech

Uma das coisas espantosas na China é a capacidade de realização.
Já vi prédios a serem construídos em meses e jardins construídos em dias.
Mas mais espantoso ainda é que, de um modo geral, essa capacidade está assente numa tecnologia semi-rudimentar.Quando espreitamos para dentro dos taipais das obras, que é frequente vermos uma geringonças a manivela, ou com motor de mota, uns carros de mão da idade da pedra, umas alavancas em bambu, etc...
Até os andaimes, por vezes, são feitos em bambu...E o engraçado é que depois, comoo resultado, são construídos edifícios super-modernos, que "transpiram" alta tecnologia.

11 julho 2007

Cabos

Li há uns dias que quando a China começou o actual surto de desenvolvimento, as necessidades de metal eram de tal forma que as tampas de saneamento dos países vizinhos começaram a desaparecer.
Ao ver os postes eléctricos e telefónicos conforme tenho visto por aí, não me admira nada.
O abuso e desperdício de cabo é total.
As fotos falam por si.

10 julho 2007

Paz Celestial

Tian An Men - no meu chinês rudimentar é traduzido como Céu Paz Portão, o que resulta em algo como Portão da Paz Celestial.

A Praça de Tiananmen é historicamente o centro da cidade de Pequim.
Dizem que é a maior praça do mundo, chegando a caber lá mais de um milhão de pessoas, em ocasiões especiais.

A praça, o verdadeiro Terreiro do Paço da China, é em si bastante "despida" apesar de ser cercada de bastantes edifícios de relevo: a cidade proibida, o museu nacional, o congresso popular e, inevitavelmente o mausuléu de Mao Tse Tung.Para os chineses a praça é conhecida como o coração simbólico do país e para os estrangeiros é conhecida pelos protestos e confrontos com manifestantes em 1989.

09 julho 2007

Culturas

Talvez por estar já há uns meses na China, por vezes esqueço-me das diferenças culturais existentes.
Mas na viagem a Cuandixia essa diferença veio à tona numa situação:
Foi connosco uma chinesa que estava a aprender português.
Quando visitamos um dos templos, que tinha um guerreiro dentro, eu perguntei-lhe o que era.
A resposta foi qualquer coisa como isto:

Na China existem quatro livros clássicos fundamentais.
Num deles, há um monge, um porco e um macaco que sabe kung-fu.
Eles vão numa viagem para a Índia para aprenderem Budismo.
Depois de combaterem vários demónios, ficam a saber voar e voltam à China com os textos sagrados.

Esta história já me fez meditar um bocado.

nota: após uma pesquisa difícil na internet já descobri que o livro se chama "Jornada ao Oeste" (do inglês: "Journey to the west") e pode-se encontrar mais informação aqui.

Cuandixia

A aldeia de Cuandixia fica a cerca de 90 km de Pequim, na antiga estrada que unia Pequim à província de ShanXi - que quer dizer literalmente: a oeste "Xi" das montanhas "Shan".
Sendo que ficava a um dia de viagem desde Tiananmen em Pequim, era um local muito utilizado pelos viajantes para pernoitar.
A aldeia está preservada na íntegra desde que foi construida durante a Dinastia Ming.
Tem cerca de 70 casas, 1 tempo taoísta e uma mina abandonada.Devo dizer que, para além do descrito, uma das razões que me levou a ir lá foi o facto de num dos guias consultados estar escrito que a aldeia ainda mantinha muitas das pinturas murais do tempo da revolução cultural.
Eu estava a contar com umas coisas imponentes e coloridas, do tipo dos murais do maoista MRPP.
Mas não... eram simplesmente palavras de ordem... em caracteres chineses.A reportagem fotográfica mais completa pode ser vista aqui:
http://chinamedina.com.sapo.pt/cuandixia/

08 julho 2007

Chinglês

Chinglês é o nome da língua que se obtém misturando de forma absurda o inglês com o chinês.
É que com a boa vontade e o voluntarismo de muitos chineses procurarem comunicar com quem não fala ingês, mesmo quando não dominam muito bem a língua, o resultado nem sempre é o melhor.
É o que acontece em muitas das placas com as quais me cruzo todos os dias.
Em alguns casos, o resultado acaba mesmo por ter piada (como o "fire esting wisher" ou o "keep murder" que estão nas fotografias).

(Re)construção

Andava a estranhar que em alguns monumentos que vi em pontos diferentes da China, os elementos decorativos eram muito parecidos ou até iguais.
Há uns tempos, ao visitar um templo em obras descobri a causa.
Pelo que percebi, em muitos dos casos, em vez de um trabalho de restauro, o que é feito é o trabalho de reconstrução.
Tira-se o antigo e põe-se o novo.
Por isso vi um monte de telhas verdes novinhas, outras vermelhas, umas cabeças de dagrão, e outros elementos que já tinha visto em tantos lugares.A própria grande muralha sofre dos mesmos males. Cheng Dalin, investigador do Instituto de Relíquias Culturais, considerou recentemente a reconstrução da Grande Muralha como a acção humana mais destruidora a que o monumento esteve sujeito até hoje.
Por exemplo, esse especialista classificou a reconstrução de uma das secções da muralha como um «trabalho fantasista e elaborado sem qualquer referência aos dados arqueológicos».

Apesar de discordar do método, tenho de compreender que desta forma o trabalho é mais rápido, mais barato, e em muitos casos evita que o monumentos se arruinem definitivamente.
Em Portugal foi feita a mesma coisa a muitos castelos e igrejas no início do Estado Novo.
Se não fosse isso, se calhar hoje em dia eles já não existiam.

Nomes

麦迪那
Apesar de serem muitos milhões, os Chineses têm um leque pouco variado de nomes.
Segundo a minha já muito citada fonte, o China Daily, existem 93 milhões de pessoas com o sobrenome Wang, 92 com o Li e 88 milhões com o Zhang.

Vai daí e o governo aprovou uma lei que permite que as crianças recebam os sobrenomes combinados do pai e da mãe: segundo o jornal, esta simples lei resultará na criação de 1 280 000 novos nomes diferentes.

Basket no bunker

Em mais uma das minhas (poucas) incursões desportivas, fui jogar basket com o Nuno e uns amigos chineses.
A nota digna de destaque foi sem dúvida o local do jogo.
Quando o táxi nos deixou no local, nós ainda ficamos meios confusos, a pensar que tinhamos sido enganados.
É que estávamos no meio de um HuTong (ver post anterior).
Mesmo daqueles bastante degradados e cheios de lixo. Mais pergunta, menos pergunta (no nosso chinês fantástico - dâ lán qiú?) e lá acabamos por encontrar um local com aspecto de ser a entrada no pavilhão.E era mesmo. Com o detalhe de o pavilhão em si ser dois pisos abaixo do piso térreo (o que até era muito bom porque ficava fresquinho).
Tinha o aspecto completo de bunker.Claro que os chineses, inspirados pela sua vedeta nacional, o Yao Ming (jogador chinês da NBA), jogavam bastante bem.
Do resultado, não vale a pena falar.

Segurança

Uma das coisas das quais eu vou sentir saudades de Pequim é da sensação de segurança.
Pequim é uma cidade extremamente segura.
E não é por ter muitos guardas ou polícias - No meu dia-a-dia não me cruzo com nenhum.
Este sentimento é partilhado pela generalidade das pessoas que eu conheço que vivem aqui.
À excepção de uma ou outra pessoa que ficou sem bicicleta, não conheço ninguém com razões de queixa.

07 julho 2007

Foi hoje

Comi escorpião!

Harmonia social

A "harmonia social" referida no post anterior também pode ser vista no parque automóvel de Pequim.
Apesar de ainda serem muito frequentes as bicicletas, triciclos, e outros veículos um pouco estranhos, o parque automóvel de pequim é bastante recente.
E é normal cruzarmo-nos diariamente com ferraris, maybachs, bmw topo de gama, etc.
E isto? Não confrontará a "harmonia social".

06 julho 2007

Hipocrisias

Há uns dias, o governo de Pequim mandou retirar de todos os outdoors da cidade os anúncios de empreendimentos imobiliários que prometem "uma vida de luxo", "o prazer supremo", "morada num castelo", entre outros slogans de grandes condomínios de luxo.
A cidade ficou cheia de painéis vazios, como os da fotografia.

Segundo o China Daily esses cartazes "ameaçavam a harmonia social" e eram uma "afronta para as classes trabalhadoras".
Seriam mesmo os cartazes?

05 julho 2007

Desenhos Animados

Quando eu era pequeno, o (já na altura) velhinho Vasco Granja apresentava-nos uns inenarráveis desenhos animados, frequentemente feitos nos "Países de Leste".
Estes desenhos animados eram caracterizados por uma técnica e uma criatividade fora do normal (e que eu na altura não conseguia apreciar - apenas me limitava a esperar pelo Bugs Bunny que era por norma deixado para o fim).
De vez em quando apareciam uns bonecos de plasticina.
Talvez tenha sido isso que me passou pela cabeça: transformar-me num desenho animado do Vasco Granja.
O resultado não foi o melhor, mas valeu a tentativa:

04 julho 2007

Cruzes

É engraçada a diferente percepção dos símbolos nas diferentes diferentes culturas.
Aqui na China, sobretudo no Tibete, a cruz suástica é um símbolo muito utilizado na decoração dos templos.
Simboliza precisamente paz, prosperidade, boa sorte e amor.

03 julho 2007

Dias da Semana

Quando entro no elevador do trabalho, o tapete tem escrito o dia da semana.
Assim nunca me esqueço.
Hoje foi terça-feira.
Bom dia senhor tapete!

Fei Ge

Nunca pensei vir a colocar uma fotografia do Figo no meu blog.
Mas é mais do que merecido.
Em qualquer recanto deste país imenso, quando digo que sou de "Pu Tao Ya" (que é como se diz Portugal em Chinês), a associação é imediata: Pu Tao Ya? Fei Ge!
Acontece em toda a parte: seja em Pequim, na Mongólia, no Tibete, até no combóio para PingYao. ..
Acho notável que a grande maioria dos chineses com quem já falei conheça o Fei Ge e o associe imediatamente a Portugal.
(Aliás, esta é normalmente a única referência que têm de Portugal.)

Ah! Quando têm duas referências falam-me do Xiao Xiao Luo Na Er Duo, que traduzido à letra quer dizer "o pequeno pequeno Ronaldo".
É que já há o Luo Na Er Duo (Ronaldo) e o Xiao Luo Na Er Duo (Ronaldinho Gaúcho).
Não deixa de ter piada.

02 julho 2007

Tibete

Não sei bem porquê, mas o Tibete despertava em mim um certo fascínio.
Telvez por isso, decidi-me a aproveitar a minha estadia para ir lá.
Isto apesar de a viagem ser longa, carota e de eu só dispôr de poucos dias para ficar por lá.
Praticamente só deu para conhecer Lhasa.
Mas valeu a pena.
Sem dúvida alguma.
As fotografias que tirei testemunham um pouco do que vi:
http://chinamedina.com.sapo.pt/

Como tenho feito noutros casos, ficam aqui os meus destaques:

1 - A viagem de avião
A viagem de avião foi um bom prenúncio para os dias que se seguiram.
Vistas fantásticas a perder de vista.
Ao longe, os Himalaias.
O monte mais alto do mundo, o Evereste, fica no Tibete.
Será que o vi? Ao longe?
2 - A aridez da paisagem
Não vinha a contar com a aridez da paisagem.
Assim como a Mongólia ou mesmo Pingyao, o Tibete é muito seco.
Do ar, só se vê a cor de terra e de areia.
Mesmo quando passa um rio.
Por vezes, um campo verde, sinal da presença humana.
3 - Lhasa
Lhasa é a capital do Tibete.
A maior surpresa em relação a Lhasa foi a sua reduzida dimensão.
No final de cada rua via-se a montanha.
A cidade acaba ali.
4 - A altitude
Tinham-me avisado que poderia sentir os efeitos da altitude.
Por estar quase a 4000 metros de altitude, em Lhasa há menos oxigénio, o que pode provocar tonturas, más-disposições e até coisas piores.
A mim não me deu nada disso, apenas cansaço. É natural...

5 - A religião
O Budismo está omnipresente em Lhasa.
Levei uma injecção brutal: Dalai Lamas, Budas, Seita do Chapéu amarelo e do Chapéu vermelho, mosteiros, monges, peregrinos, protectores...
Apesar de a minha ideia inicial ser bastante diferente, o que vi aproxima bastante o budismo de outras religiões:
Peregrinos, pessoas a cumprir promessas, a rastejar, monges, ofertas em dinheiro, orações permanentes, purificações...
6 - Os monges
Os monges são uma imagem comum em Lhasa.
É impossível olhar para algum lado em que não se veja um monge, no seu traje avermelhado.
7 - A roda das orações
Este é o instrumento mais estranho que eu tive a oportunidade de conhecer.
É uma espécie de tecnologia espiritual.
Funciona assim: coloca-se um papel com uma oração (mantra) dentro da roda, e depois faz-se girar à volta como uma roca.
Cada volta corresponde a uma oração.
Eu diria que mais de metade das pessoas que vi, andava às voltas com uma coisa dessas.
O mesmo acontece com uns cilindros metálicos que se fazem rodar (sempre no sentido dos ponteiros do relógio).
8 - Os mosteiros e o palácio de potala
Como foi construído na base de uma religião, andar pelo Tibete, e particularmente por Lhasa faz-nos cruzar com inúmeros mosteiros e templos.
O mais emblemático é sem dúvida o Palácio de Potala, onde morava o Dalai Lama - sede espiritual e administrativa do Tibete até à "invasão" ou "libertação" (conforme os pontos de vista) pela China.
9 - Os Tibetanos
O melhor de tudo no Tibete: simples, orgulhosos, simpáticos, ... Diferentes...

Tudo isto documentado fotograficamente em: